TESTEMUNHO PASTOR JUSTINO
Caros amigos,
Por muito tempo me contive em falar o meu testemunho de vida. Mas hoje, quando vejo a quantidade de pessoas chegando em nossa Comunidade e vejo a quantidade de pessoas escrevendo em nosso site, vejo que pode ser de muita importância para estas pessoas conhecerem um pouco sobre mim e sobre o início de nossa igreja. Acredito que estas palavras poderão ser de extrema ajuda.
Meu nome é Justino Luiz, sou divorciado, tenho 42 anos, e sou o quarto filho entre oito irmãos, descendendo de índios alagoanos, de uma família muito simples.
Quando lembro-me de minha infância já me vem à memória a minha escolha por bonecas, pinturas, bijuterias. Lembro-me, também, que até vestidos de minha mãe eu colocava para dançar. Claro que isto fez com que eu apanhasse muito, pois meus pais não podiam aceitar que um de seus filhos viesse a ser um gay (creio que nem entendiam o que era isto).
O que sei é que sempre fui um menino muito revoltado e perturbado em meus conflitos. A partir dos meus dez anos de idade, comecei a fumar, a beber e a usar drogas. Sinceramente não lembro-me de bons momentos durante minha adolescência -- um período tão importante da vida de qualquer pessoa que eu perdi (ou melhor: joguei fora), assumindo uma heterossexualidade que não me pertencia, esquecendo da minha verdadeira sexualidade. Durante a adolescência, passei a me portar como heterossexual, namorei com muitas garotas, fui noivo por duas vezes e perdi noites inteiras em salões de bailes sempre regados a bebidas, drogas e mulheres.
Mas houve um momento em que tudo isto não bastou mais para mim. Passei a sentir um vazio muito grande dentro do meu peito: eu precisava de algo mais forte que a bebida, mais forte que as drogas, mais forte que a mim mesmo. Foi quando, num domingo, minha primeira noiva me convidou para ir à igreja onde minha mãe freqüentava; uma igreja muito humilde. Eu resolvi ir, sem saber o que eu iria encontrar lá. Ouvi os cânticos, as orações, a pregação da Palavra. E houve um momento especial, no qual o pastor disse que Jesus Cristo tinha todo o poder. Nesse momento, eu percebi que era deste Jesus que eu precisava: Ele era mais forte que a bebida, Ele era mais forte que as drogas, Ele era mais forte que a mim mesmo! Senti os seus braços de amor me envolvendo de forma tão palpável que jamais esquecerei. Abandonei a bebida, o cigarro, as drogas e passei a ter uma vida nova com Deus, minha noiva não quis esta nova vida e procurou outros caminhos, conheci outra garota com quem comecei a namorar, noivamos e nos casamos.
Costumo dizer que não casei-me com a mesma pessoa com quem namorei, pois antes de nos casarmos fazíamos muitos planos para trabalharmos na igreja, trabalhos seculares, filhos etc... Mas, após o casamento, simplesmente ela desistiu de todos estes planos: já não ia para a igreja, já não tinha os mesmos sonhos, já não pensava em filhos e, quando eles vieram, ela tentou não tê-los como se não fossem desejados. Mesmo assim, tivemos dois filhos lindos.
Contudo, eu já pastoreava a igreja quando me vi com desejos homossexuais: aquela sexualidade que eu havia esquecido voltou a aparecer e agora com uma intensidade tão grande que eu me sentia enfermo, pois não conseguia entender o que estava acontecendo comigo. Sabia que não podia ser possessão demoníaca, pois sempre fui de muita oração. Sabia qual era o meu relacionamento com Deus! Então tentei me convencer de que estava doente; e assim vivi durante os sei anos em que estive casado: lutando com as minhas fantasias. Nunca traí minha esposa. Eu não queria ser gay, eu não podia ser gay, eu não aceitava sequer esta idéia. Afinal, eu tinha uma família, era pastor, amava muito a Deus!
Passei então a brigar com Deus pois Ele tinha que mudar esta situação: eu orava, jejuava, ia para monte, fazia campanhas e de nada adiantava. Um dia resolvi abrir meu coração para minha esposa (afinal, todo relacionamento deve se basear em confiança). Hoje compreendo que ela não suportou o peso da realidade que nos cercava, e passou a dividir este peso com pessoas erradas, como sua mãe e outros pastores. O que sei é que após dois meses, aproximadamente, os meus amigos passaram a me perguntar se eu era homossexual. E quando eu lhes perguntava de onde ouviram tal absurdo eles respondiam que da boca de minha esposa ou de minha sogra. Percebi que o bairro inteiro já sabia. Por conta disso, passei a ser motivo de chacota. Certa vez, entrei num ônibus e duas garotas começaram a falar em voz alta: ah, então o pastor daquela igreja é gay, onde vamos parar? Me senti humilhado, sem esperança e sozinho; até minha família reuniu-se para me questionar. Eu, porém, neguei, não tive coragem, pois nem eu mesmo sabia o que estava acontecendo comigo. Procurei ler tudo a respeito de homossexualidade; fui a psicólogo (que me ajudou muito a me compreender). E resolvi abandonar minha esposa, abandonar a igreja, abandonar os amigos, o ministério...
Foi grande a minha surpresa quando percebi que a minha saída não incomodou a ninguém e, até hoje, jamais recebi um telefonema sequer perguntando se estou bem, se os falatórios eram reais. Só não abandonei os meus filhos: deles nunca desisti. Desde a separação, os vi a cada quinzena.
Creio que depois de aceitar a Jesus como único e suficiente salvador de minha vida a decisão mais importante que tomei foi a de me divorciar. Certamente, se eu não tivesse tomado esta decisão eu seria infeliz, teria uma esposa infeliz, filhos infelizes num casamento infeliz. Hoje, sou muito feliz! Minha ex-mulher casou-se novamente, meus filhos são lindos e felizes.
É certo que logo após a separação fiquei muito deprimido, passei alguns meses sem sair de casa, não tinha coragem para nada, deixei de ir à igreja, não queria saber de Deus. Conheci um rapaz e comecei um relacionamento que durou 8 anos. Um relacionamento muito conturbado com poucas lembranças boas.
Depois, durante algum tempo, passei a freqüentar os encontros de paz de uma determinada igreja num teatro no bairro da Liberdade. Lá, Deus falou comigo: disse-me que eu iria trabalhar com homossexuais. Na ocasião, contudo, eu não entendi: achava que Deus estava me pedindo para levar os homossexuais a reverter sua sexualidade -- uma incoerência, já que neste mesmo dia eu havia sentido uma paz muito grande com relação à minha sexualidade e com relação a Deus. Entendi, depois, que Deus me ama como sou e que Ele mesmo me fez e que Ele não erra em sua criação.
Em 1998 acabou aquele relacionamento, na mesma época que um dos meus irmãos veio a falecer com câncer. Fiquei tão mal que resolvi sair de um emprego de 20 anos. Entrei em depressão novamente, não conseguia dormir, comer, trabalhar, não conseguia viver. Até que um amigo me convidou para um emprego temporário (o popular “bico”) na empresa em que trabalhava. Resolvi aceitar e comecei a trabalhar no Shopping Lapa. O meu trabalho era supervisionar máquinas de cartões telefônicos. E, como tinha tempo, passei a ler meus velhos livros evangélicos; passei a ler a Bíblia novamente. Por conta disso, comecei a me animar. Um dia, percebi um rapaz me olhando, totalmente fora do padrão de beleza que eu gostava. Este rapaz veio falar comigo e insistiu, durante aproximadamente uns 40 dias, até que cedi. Ele também saia de um relacionamento muito difícil. Então resolvemos caminhar juntos: e caminhamos durante 9 anos (até que ele veio a falecer devido a uma espécie rara de câncer em maio de2007).
Lembro-me que, um dia, quando eu estava lamentando e falando do tempo em que freqüentava a igreja, que me surpreendi com meu companheiro me falando: se Deus é tão importante para você, por que você não volta para Ele? Por conta desse conselho, passei a ir a uma igreja dessas de “multidões”, mas voltava do mesmo jeito que ia. Contudo, a convite de uma amiga de trabalho, comecei a freqüentar uma outra igreja e a me identificar mais e me fortalecer. Foi quando vi uma reportagem na revista Época sobre um pastor chileno que abrira uma igreja para gays. Nesta ocasião um amigo que há muito tempo eu não via me procurou e me disse que havia se convertido. Comentei com ele sobre a tal igreja para gays. A princípio, achávamos que não seria uma igreja séria. Mas resolvemos pagar para ver: fomos à igreja e, chegando lá, encontramos pessoas desejosas de Deus.
A reunião daquela igreja era muito moderada para os nossos hábitos, mas garantia a nossa porção semanal da Palavra. E era realizada num pequeno apartamento, num bairro do Centro de São Paulo. Por ser um apartamento, chegávamos no horário do culto e íamos embora assim que acabava: não havia possibilidade de se estabelecer vínculo de amizade. Até que surgiu a possibilidade de alugar um espaço no bairro de Santana: ali realmente se formou uma igreja e agora tínhamos como conhecer as pessoas, conhecer o pastor.
Começamos a nos envolver com a igreja e seu trabalho e, a partir daí, começamos a ter divergências com o pastor. Em julho de 2004, saímos desta igreja. Na semana seguinte, um irmão (que também já havia saído desta mesma igreja como tantos outros) me telefonou, convidando-me a participar de um grupo de oração e estudo. Na ocasião, a minha pergunta foi a seguinte: vocês pretendem abrir uma nova igreja? A resposta foi “não” (mas os nossos pensamentos não são os pensamentos de Deus).
A cada reunião que fazíamos mais e mais pessoas chegavam, ao ponto de termos 40 pessoas num lugar onde mal havia espaço para 20. Era inevitável ter que se arranjar um outro espaço. Assim, foi necessário alugar um lugar maior para acomodar aquelas pessoas. No começo, ganhamos algumas cadeiras, um retroprojetor, dois ou três ventiladores. Percebemos que, mesmo que quiséssemos parar, já estávamos num ponto em que não poderíamos. Era como se estivéssemos sendo impulsionados por Deus a fazer a igreja acontecer.
Quando pensamos em um nome, vinha ao meu coração um trecho do livro de Romanos (12:12): “alegrai-vos na Esperança, sede paciente na tribulação e perseverai em oração”. Assim, nasceu o nome COMUNIDADE CRISTÃ NOVA ESPERANÇA, pois uma NOVA ESPERANÇA providenciou Deus para nós que já não a tínhamos. E, desde então, aqui temos alegria, aqui temos comunhão, aqui não há hipocrisia, aqui é o lugar que o próprio Deus separou para nos reconciliar com Ele mesmo. Todos os dias, no meu coração e na minha boca, dou graças a Deus por haver nascido um NOVA ESPERANÇA.
Pr Justino Luiz